Categoria: Livros
LEITURAS E LEITORES DE LACAN EM TRÊS AFORISMOS
Psicologia das massas e análise do eu, Solidão e multidão.
A novidade, para a qual Freud começa a preparar o leitor, é que o coletivo e o individual obedecem à mesma estrutura e respondem às mesmas leis. A diferença está em que as forças do desejo que permancem “sob controle” (reprimidas e recalcadas) no indivíduo resultam desencadeadas no grupo. Como se para cada um dos participantes não fosse mais necessário cuidar das regras da polidez e decência, já que a multidão é sem lei. O olho do preceptor não me enxerga no meio da multidão, e o meu cuidador interior pode permitir-se também relaxar a sua vigilância: “Serei eu o único a ficar de fora?” Sim, mas a multidão não tem leis próprias, como a água, que não se comporta do mesmo modo quando se trata de uma piscina ou de um mar em fúria? Em outras palavras, a partir de um certo número (qual?) de pessoas reunidas, elas não passam a se comportar de acordo com outras leis que não as que vigem para cada uma delas separadamente? Precisamente, não. A ideia é que o comportamento da turba revela os componentes do psiquismo individual. Como se a verdade deste, que permanece oculta em situações cotidianas, viesse à tona na massa.
Goza! Capitalismo, Globalização, Psicanálise
A globalização, mais recente avatar do capitalismo, interage com a Psicanálise numa via de mão dupla; por um lado, as novas relações econômicas e sociais atuam sobre o sujeito, provocando o aparecimento de novos sintomas. Os psicanalistas, por sua vez, não cessam de interrogar, a partir da sua clínica, os efeitos do laço social capitalista no sujeito e na pólis. Este volume reúne algumas das contribuições mais representativas desse esforço de teorização acerca da relação entre sujeito e objeto na sociedade capitalista. Juntamente com analistas de diversas escolas, profissionais das áreas de Sociologia, Direito, Filosofia e Jornalismo discutem os efeitos do Capitalismo na subjetividade hodierna.
Do amor louco e outros amores
Os textos que compõem este livro refletem, sem eu saber, diferentes estados da minha relação com o amor e com a minha prática de psicanalista. São, acredito, a mesma coisa. A pergunta pelo desejo insiste em todos eles, às vezes desde meu consultório, outras, a partir do (des)encontro com uma mulher ou com um amigo. Ela me é remetida por um filme, um poema ou um romance; ou, então me retorna da leitura de uma notícia de jornal ou, claro, dos meus monólogos assistidos no divã.
Ensaio Sobre a Moral de Freud
Discute o problema ético decorrente da experiência analítica. Num estilo ao mesmo tempo rigoroso e fluente, este ensaio levanta questões que concernem não apenas aos praticantes da psicanálise mas também aos leitores provenientes de outros campos, sobretudoda filosofia, com a qual mantém um diálogo vivo e enriquecedor.
Política e Psicanálise
Psicanálise e política não se opõem. Erra quem ainda acredita que uma se ocupa do coletivo enquanto a outra cuida do individual. Erra também quem ve na política a arte de manipular as massas mediante miragens e na psicanálise, a de revelar-lhes o caroço da verdade subjacente.
Mais que não seja por terem os mesmos problemas, isto é, a escolha e a liberdade, e por tratarem do mesmo objeto, a saber, a felicidade (quer se denomine “gozo” ou “res publica”, o referente é o mesmo), não existe aqui a menor oposição e em nada se justifica a indiferença dos psicanalistas em matéria de política. Claro que ambas práticas não abordam seu objeto da mesma maneira e é desta diferença que se ocupa este livro.
No círculo cínico ou Caro Lacan, por que negar a psicanálise aos canalhas?
A máxima de ‘levar vantagem em tudo’, coerente com a corrupção crônica que infesta todos os estamentos da vida civil, parece exprimir uma verdadeira ética do malandro. Lado obscuro da fé cega de que sempre há de haver um jeito (para driblar as regras em benefício próprio). À lei universal internalizada do sujeito ético – há três séculos alicerce de toda reflexão sobre a moral – se substitui a paixão do esperto em ser a exceção que confirma a regra (dos outros). O problema é que esta exceção torna-se regra – a da malandragem -, e resulta difícil imaginar o que será feito dos tolos no dia em que se realize a sonhada nação da esperteza.
Vertigem desta curiosa dialética do malandro e do otário – versão bufa do legado hegeliano, mas não por isso merecedora de menor atenção – que o autor se dispõe a examinar neste trabalho. Menos para somar à legião dos descontentes (ou seja, daqueles que chegaram tarde ao reparte do bolo), que para demonstrá-la efeito de um novo discurso vigente na civilização. O discurso do cínico que, como qualquer outro, determina a organização mesma dos vínculos sociais em que se realiza e se exercita nossa subjetividade.