No círculo cínico ou Caro Lacan, por que negar a psicanálise aos canalhas?

livro_ricardo-goldenberg_no-circulo-cinico-ou-caro-lacanA máxima de ‘levar vantagem em tudo’, coerente com a corrupção crônica que infesta todos os estamentos da vida civil, parece exprimir uma verdadeira ética do malandro. Lado obscuro da fé cega de que sempre há de haver um jeito (para driblar as regras em benefício próprio). À lei universal internalizada do sujeito ético – há três séculos alicerce de toda reflexão sobre a moral – se substitui a paixão do esperto em ser a exceção que confirma a regra (dos outros). O problema é que esta exceção torna-se regra – a da malandragem -, e resulta difícil imaginar o que será feito dos tolos no dia em que se realize a sonhada nação da esperteza.

Vertigem desta curiosa dialética do malandro e do otário – versão bufa do legado hegeliano, mas não por isso merecedora de menor atenção – que o autor se dispõe a examinar neste trabalho. Menos para somar à legião dos descontentes (ou seja, daqueles que chegaram tarde ao reparte do bolo), que para demonstrá-la efeito de um novo discurso vigente na civilização. O discurso do cínico que, como qualquer outro, determina a organização mesma dos vínculos sociais em que se realiza e se exercita nossa subjetividade.

Feio, sujos e malvados: alguns destinos da identificação nos psicanalistas

Duas mulheres conversando durante o intervalo de um espetáculo.

-Estes analistas serão muito analisados, mas sexy é que não são.

-As mulheres viram umas barangas tipo cetáceo e os caras… pelamordedeos! E o pior é

que lidam o dia inteiro com a sexualidade dos que tem sexualidade (rs)

-Deve ser por isso que vivem falando que não há relação sexual.

-Pois é, são tipo Alexandre Garcia, sabe como é?, o almofadinha da Globo.

-Merecem o apelido de “Hagá-dois-o”.

-“Hagá dois o”?

-É, H2O: incolor, inodoro e insípido.

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O quilombo dos psicanalistas

Fui informado que devo royalties a Gustavo Etkin pelo título que escolhi para esta comunicação ao congresso. Proponho um

pequeno escambo para saldar minha dívida: o trabalho destas reflexões em troca do pagamento devido. (…)

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Debate Lacan – Espaço Revista CULT

Psicanalista avaliam como o estilo de Lacan marcou o percurso formativo de cada um. Com Christian Dunker, Ricardo Goldenberg, Maria Lívia Tourinho Moretto, Miriam Debieux Rosa e Dominique Fingermann.

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Café Filosófico: A utopia do autoconhecimento

“Conhece-te a ti mesmo” era a inscrição da porta do oráculo de Delfos, na antiga Grécia. Este conselho do oráculo grego ganhou novo sentido com a psicanálise. Freud encontrou pistas importantes para a investigação de quem somos. Neste programa, o psicanalista Ricardo Goldenberg mostra como a psicanálise pode ajudar a responder a pergunta ‘Quem sou eu’?

Para Goldenberg, a psicanálise deve apostar na nossa capacidade de responder a esta pergunta e de criar sentidos para a nossa vida.

Palestra de Ricardo Goldenberg no programa Café Filosófico CPFL gravada no dia 26 de junho de 2009, em Campinas.
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Psicanalista Ricardo Goldenberg é o convidado desta quarta do Café Filosófico da RGE, em Caxias

cafe-filosofico-caxias_ricardo-goldenbergO argentino Ricardo David Goldenberg, 54 anos, é o palestrante desta quarta-feira do Café Filosófico da RGE, em Caxias do Sul (veja serviço). Psicanalista e estudioso de Sigmund Freud, ele falará sobre Utopia na personalidade: crise e superação da neurose da felicidade perfeita. Apesar do que o tema sugere, ele não abordará a felicidade, mas o mito do autoconhecimento. — Se eu soubesse responder sobre a felicidade eu já estaria rico (risos) — afirmou, por telefone, de São Paulo, onde reside há quase três décadas. Goldenberg explica que só é possível se reconhecer completo no outro. Admite que hoje em dia se tem respostas pret-a-porter sobre a felicidade e que a ideia de “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta” era bem mais honesta quando se limitava a uma função específica, como deixar o cabelo macio. Mas não polemiza muito. Confira os principais trechos da entrevista concedida ao Pioneiro: Pioneiro: Que relação existe entre autoconhecimento e felicidade? Ricardo David Goldenberg: Eu tento desmontar o mito do autoconhecimento. Se existe algo interessante na descoberta da psicanálise é mostrar que o autoconhecimento é uma miragem, uma falácia. Se isso serve pra pessoa sofrer menos, aí tem a ver. Se não, não. A ideia de que você não vai sofrer e que a vida tem que ser uma maravilha cor-de-rosa é absolutamente uma miragem. Pioneiro: Uma das ideias da modernidade é de que o indivíduo pode buscar a felicidade. Sendo esse um propósito, a felicidade não pode tornar-se um fardo? Goldenberg: O que cria um fardo é o dever de ser feliz. Se existe uma coisa que as pessoas fogem como da peste é de quando alguém nos manda ser feliz. É como uma mãe que diz à filha adolescente ‘divirta-se’. Se ela obedece à mãe, está com problema em relação à desobediência característica da adolescência, e se desobedece também vai ter problemas. Ou seja, vai ser infeliz das duas maneiras. Mandar alguém ser feliz é impossível e só pode produzir infelicidade. A gente está vivendo numa época de felicidade obrigatória. Pioneiro: E a autoconsciência pode ajudar nessa conquista? Goldenberg: Bem pelo contrário. A ideia de que eu sou transparente a mim mesmo e sei de todas as minhas determinações é um mito catastrófico, que determina coisas que não sei quais são. Quando essas coisas que eu desconheço aparecem, acabo não as reconhecendo como sendo minhas, uma vez que jogo fora qualquer coisa que não encaixa, que apareça como enigma. Pioneiro: Como a psicanálise pode intervir nisso? Goldenberg: Se a psicanálise vale pra algo é pra que se aproprie desse outro em você. Até porque você tem uma divisão entre o que acredita e produz simbolicamente. O outro em mim também sou eu. Mas não é só a psicanálise que consegue isso. Os artistas sabem disso intuitivamente, por isso podem escrever, fazer quadros, música, mostrar o seu outro eu. Pioneiro: E todos esses conceitos que viraram produtos de consumo para garantir felicidade e autoconhecimento, por exemplo, trazem mais problemas do que soluções? Goldenberg: Não se pode afirmar isso. O autoconhecimento começa com o Iluminismo (movimento de intelectuais franceses do Século 18). Assim como homem estava conhecendo a natureza inteira, podia e devia conhecer o mundo interior. Mas Freud diz que essa possibilidade inexiste, o mundo interior deve conviver com o desconhecimento de si próprio. Se alguém prega a ilusão de que a pessoa pode conhecer a si própria sozinha, está sendo alienada. A miragem do autoconhecimento vai em direção a uma catástrofe e não a melhorar a vida de ninguém. Pioneiro: As pessoas devem parar de olhar para si próprias? Goldenberg: Se a pessoa quiser saber sobre o enigma nela, não vai ser observando a si própria, mas observando o que diz e faz sobre os outros. Se chega pra um amigo e começa a falar de alguém para ele, pode ter certeza que você está falando de si próprio e não de outro. Se aprender a reconhecer isso, vai ser mais fácil saber das suas coisas desconhecidas através do outro. Pioneiro: Mas as pessoas param tão pouco para observar o outro… Goldenberg: Sim, é o mito do autoconhecimento de que eu deveria olhar para mim próprio como se isso fosse possível. Se você olhar para si próprio vai tirar da cartola o mesmo coelho que botou antes, como um mágico. A única possibilidade de ter uma ideia do outro em você é perceber os seus efeitos na família, nos amigos. Pioneiro: Então a máxima “Dize-me com quem andas que te direi quem és” é válida? Goldenberg: Em partes, sim. Se você conseguir interrogar a si próprio por aí, sim. Mas não é todo mundo que tem essa disciplina. Se você quiser saber de você, precisa ver os efeitos das suas falas e seus atos sobre os outros. Link daqui.