Quero falar sobre nossos pacientes, os nossos e os dos outros.
O tema destas jornadas é o ato analítico e por tal todo mundo entende o que cada analista faz com seus pacientes. O sujeito do agir está na poltrona, o objeto sobre o qual a ação recai, no divã. Tenho certeza que ninguém aqui o diria desta maneira, mas é assim que resulta de fato concebido, se não de direito, ao menos de fato. Meu desejo é refletir junto com vocês sobre o que se passa ou não se passa do lado divã do ato analítico.
“Cada um tem o analista que merece” é o mote que me ocorreu para conversarmos sobre isso. Poderia ter chamado esta comunicação de “Jacques com Nelson”, aproveitando aquele impagável “perdoa-me por me traíres” ›que, sem o voluntarismo da boa ou da má consciência, e sem condescendência para com a vitimização generalizada, me parece uma fórmula excelente para introduzir a pergunta pela ética do analisante, se houver.
Esta ideia de pensar a ética do lado analisante não é nada nova para mim. Há muitos anos argumentei sobre a inadequação da palavra “paciente” para designar os atarefados em analisarem-se. Lacan sugeriu precisamente “analisante”, em vez de analisando, para denotar que ali não havia a menor passividade. Eu teria preferido “analisador” em nossa língua, mas enfim, é a tradução que vingou para analysant. Naquela ocasião, sugeri que cabia ao analista ser paciente, contanto que tivesse a manha de induzir uma certa impaciência nos seus analisantes. Paciência para esperar o bom momento de incomodá-los, a ponto de sacudir a sua inércia sintomática. No fim das contas, saber esperar a boa ocasião faz o bom político, e o bom analista também.
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