Tudo começou com um mal entendido.A revista Hora Hagá tinha me encomendado uma matéria sobre psicanalistas expatriados, a propósito da pergunta “É possível ser psicanalista em outra língua que não a própria?”
Tinha argumentado com a minha editora, Lily Faria, que se existem escritores, como o russo Nabokov ou o polaco (perdão, “polonês”) Conrad, que escreviam em inglês; ou o outro polonês (perdão, “polaco”), Gombrowicz, que o fazia em castelhano; ou o irlandês Beckett, em francês, ou Joyce, também irlandês, escritor em uma língua imaginária, então, pensava eu, por que não poderia haver psicanalistas a analisar em línguas que lhes fossem estrangeiras? Porque, tinha me respondido Lily, a psicanálise consiste na exploração das próprias origens, e na origem está a língua materna.
O argumento parecia de peso, e foi com esta pauta que consegui uma lista de psicanalistas estrangeiros clinicando em São Paulo. Como tenho o hábito pouco brasileiro de organizar a agenda segundo os sobrenomes, comecei com o primeiro da lista, Goldenberg Ricardo.
María Elena Ángeles é repórter da revista Harper de Nova Iorque, graduada em
jornalismo pela Auburn University (School of Communication and Journalism),
trabalhou nos jornais O Globo, do Rio de Janeiro e Página 12, de Buenos Aires