Assim é se lhe parece

Uma vez, durante um daqueles jantares denominados “de confraternização” eu exprimi minha opinião de que proibir os símbolos era uma medida inútil e até contraproducente no combate à causa que o símbolo representa. Eu acredito que se a conversa fosse sobre brasões em geral a questão nem teria sido levantada, porém era da suástica que se falava e do uso que dela fazem nossos periféricos punks.

Do meu lado estava sentada uma senhora que se ergueu como pôde na sua cadeira para me apostrofar. “Se você fosse meu filho,” ela disse, mais para o resto da mesa do que para mim, “eu te esbofeteava! Um judeu de pai e mãe, como você,” continuou, “não tem o direito de ser pragmático!  Deixa isso para ela”, concluiu, indicando outra comensal, cujo sobrenome português delatava a cristã nova.

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An Oak Tree

“Um Carvalho”, no original, “An Oak Tree“, foi apresentado por Michael Craig-Martin, o artista irlandês de 62 anos, pela primeira vez em Londres, em 1974, e se encontrava até o mês passado (março de 2004) na mostra A Bigger Splash, na Oca, no parque Ibirapuera de São Paulo…

 

Na exposição, “Um Carvalho” é acompanhado de um texto. Ei-lo:an oak tree

Pergunta – Para começar, você poderia descrever esta obra?
Resposta –
Sim, claro. O que fiz foi transformar um copo d’água em um carvalho sem alterar os acidentes do copo d’água. (mais…)

A história do fim da análise

Eu tenho um nome a zerar
Glauco

Quem se propor a escrever uma
biografia está engajando-se na
mentira, no disfarçe, na bajulação…
A verdade não é acessível.
Freud

Muchas gracias, pero yo consigo
equivocarme solo
Meu pai

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Yo no creo en brujas

Embora a divisão do sujeito seja um dado de estrutura que vale para todos, não é sempre que alguém admite para si esta condição. Leia-se O visconde partido ao meio, de Ítalo Calvino, para se ter uma idéia do que poderia ser não consentir à própria divisão. (…)

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Trair Lacan ou Observações sobre a pele do babaca

J’ai eu la peau du con
Sade via Lacan (via Jacques-Alain Miller)

Je triomphe ! j’ai de la peau du con
Sade (da própria pena)

Abertura

Como ler Lacan?, eis a questão. Ou ainda, o que ler quer dizer? Penso menos na leitura em geral—embora seja um tema interessante: o lugar da letra, isso tudo — como o que significa ler em psicanálise e, especialmente, o quê ler Lacan.

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Capitalismo e barbárie

Boa noite.

Não sei se todos leram a convocatória, mas a propósito do epígrafe de Einstein escolhido pelo CRP-SP para amparar este debate, queria fazer observar que as pesquisas sobre a fisão atômica que deram em Hiroshima estão em tudo relacionadas com a introdução da noção de Direitos Humanos no campo do direito internacional. (…)

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Disque

Escrevi para vocês um trabalho que se chama “Disque”. Disque, de discar, o que fazemos depois de pegar no telefone; selecionar uma combinatória de seis ou sete dígitos e confiar em que a Telesp irá nos pôr a pessoa certa do outro lado do fio. Acontecimento, diga-se de passagem, cada vez mais raro. (…)

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Feio, sujos e malvados: alguns destinos da identificação nos psicanalistas

Duas mulheres conversando durante o intervalo de um espetáculo.

-Estes analistas serão muito analisados, mas sexy é que não são.

-As mulheres viram umas barangas tipo cetáceo e os caras… pelamordedeos! E o pior é

que lidam o dia inteiro com a sexualidade dos que tem sexualidade (rs)

-Deve ser por isso que vivem falando que não há relação sexual.

-Pois é, são tipo Alexandre Garcia, sabe como é?, o almofadinha da Globo.

-Merecem o apelido de “Hagá-dois-o”.

-“Hagá dois o”?

-É, H2O: incolor, inodoro e insípido.

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On my blindness

Fui convidado a falar sobre “Borges e o Cinema”, e tive a imprudência de aceitar.

Tomo a palavra, contudo, numa posição curiosa, borgeana, diria. Ocupo o lugar de uma mulher que, como eu, tampouco deveria ter estado aqui. Explico. Meu anfitrião e curador destes labirintos, convidara para esta mesa uma colega e amiga que, ela sim, teve a prudência de não aceitar, indicando meu nome. (…)

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