Apócrifos

García Marquez está morrendo. Mas, oh vanitas!, nem pela obra nem pelo Nobel considerou-se dispensado de convocar uma coletiva de imprensa para renegar de um poeminha denominado Marionete, que circula na www como seu testamento literário: “O que pode me matar não é o câncer, mas a vergonha de que alguém acredite que eu tenha escrito uma coisa tão cafona.” ‘Tá bom, Gabo, não será dessa vez que terminarás num quadrinho na parede da cozinha, como Borges com o poema instantes (1) . Ou num marcador de livro, como os ensinamentos do mago Paulo Coelho, que não me surpreenderia se fossem lidos na calada da noite por muitos empenhados durante o dia na sua execração pública. (mais…)

A consciência negra do politicamente correto

No passado dia 24, uma coluna no jornal Folha de S.P., assinada por Fernando de Barros e Silva, tecia uma série de considerações a propósito de uma menina de cinco anos, provavelmente a sua filha, ter se referido ao dia da Consciência Negra como “Dia dos Morenos”. Esta pérola foi usada apenas para somar mais um exemplo ao que aquele jornal denomina, com feliz expressão, de “racismo cordial dos brasileiros”. Com o intuito de contribuir para que não se perca na paralisia do pensamento crítico provocada pelo vírus contraído nos Estados Unidos denominado “correção política”, proponho ao jornalista uma outra leitura do comentário da garotinha que, “na inocência do seu eufemismo involuntário, que provavelmente ouviu de alguém (inocente?), toca o nervo da questão racial no Brasil”. (mais…)