García Marquez está morrendo. Mas, oh vanitas!, nem pela obra nem pelo Nobel considerou-se dispensado de convocar uma coletiva de imprensa para renegar de um poeminha denominado Marionete, que circula na www como seu testamento literário: “O que pode me matar não é o câncer, mas a vergonha de que alguém acredite que eu tenha escrito uma coisa tão cafona.” ‘Tá bom, Gabo, não será dessa vez que terminarás num quadrinho na parede da cozinha, como Borges com o poema instantes (1) . Ou num marcador de livro, como os ensinamentos do mago Paulo Coelho, que não me surpreenderia se fossem lidos na calada da noite por muitos empenhados durante o dia na sua execração pública. (mais…)
A história do fim da análise
Eu tenho um nome a zerar
GlaucoQuem se propor a escrever uma
biografia está engajando-se na
mentira, no disfarçe, na bajulação…
A verdade não é acessível.
FreudMuchas gracias, pero yo consigo
equivocarme solo
Meu pai
A consciência negra do politicamente correto
No passado dia 24, uma coluna no jornal Folha de S.P., assinada por Fernando de Barros e Silva, tecia uma série de considerações a propósito de uma menina de cinco anos, provavelmente a sua filha, ter se referido ao dia da Consciência Negra como “Dia dos Morenos”. Esta pérola foi usada apenas para somar mais um exemplo ao que aquele jornal denomina, com feliz expressão, de “racismo cordial dos brasileiros”. Com o intuito de contribuir para que não se perca na paralisia do pensamento crítico provocada pelo vírus contraído nos Estados Unidos denominado “correção política”, proponho ao jornalista uma outra leitura do comentário da garotinha que, “na inocência do seu eufemismo involuntário, que provavelmente ouviu de alguém (inocente?), toca o nervo da questão racial no Brasil”. (mais…)
Yo no creo en brujas
A outra cena
Trair Lacan ou Observações sobre a pele do babaca
J’ai eu la peau du con
Sade via Lacan (via Jacques-Alain Miller)
Je triomphe ! j’ai de la peau du con
Sade (da própria pena)
Abertura
Como ler Lacan?, eis a questão. Ou ainda, o que ler quer dizer? Penso menos na leitura em geral—embora seja um tema interessante: o lugar da letra, isso tudo — como o que significa ler em psicanálise e, especialmente, o quê ler Lacan.
Capitalismo e barbárie
Boa noite.
Não sei se todos leram a convocatória, mas a propósito do epígrafe de Einstein escolhido pelo CRP-SP para amparar este debate, queria fazer observar que as pesquisas sobre a fisão atômica que deram em Hiroshima estão em tudo relacionadas com a introdução da noção de Direitos Humanos no campo do direito internacional. (…)
Disque
Escrevi para vocês um trabalho que se chama “Disque”. Disque, de discar, o que fazemos depois de pegar no telefone; selecionar uma combinatória de seis ou sete dígitos e confiar em que a Telesp irá nos pôr a pessoa certa do outro lado do fio. Acontecimento, diga-se de passagem, cada vez mais raro. (…)
Feio, sujos e malvados: alguns destinos da identificação nos psicanalistas
Duas mulheres conversando durante o intervalo de um espetáculo.
-Estes analistas serão muito analisados, mas sexy é que não são.
-As mulheres viram umas barangas tipo cetáceo e os caras… pelamordedeos! E o pior é
que lidam o dia inteiro com a sexualidade dos que tem sexualidade (rs)
-Deve ser por isso que vivem falando que não há relação sexual.
-Pois é, são tipo Alexandre Garcia, sabe como é?, o almofadinha da Globo.
-Merecem o apelido de “Hagá-dois-o”.
-“Hagá dois o”?
-É, H2O: incolor, inodoro e insípido.
On my blindness
Fui convidado a falar sobre “Borges e o Cinema”, e tive a imprudência de aceitar.
Tomo a palavra, contudo, numa posição curiosa, borgeana, diria. Ocupo o lugar de uma mulher que, como eu, tampouco deveria ter estado aqui. Explico. Meu anfitrião e curador destes labirintos, convidara para esta mesa uma colega e amiga que, ela sim, teve a prudência de não aceitar, indicando meu nome. (…)